terça-feira, 27 de novembro de 2012

Entrevista com Ernani Maletta, Diretor Artístico e Cênico do grupo i Molinari camerata musici

 



Entrevista realizada por Ana Beatriz Pereira, Assessora de Imprensa do projeto i Molinari camerata musici, em 23 de novembro de 2012

Com a sua experiência em Direção Artística e Cênica de grandes grupos musicais e teatrais, como você vê esta iniciativa do i Molinari camerata musici?

Essa iniciativa na verdade é uma resposta a um movimento que os integrantes fazem proporcionado pelo talento musical deles. Esse é um grupo de artistas que faz um trabalho acima da média, e que tem qualidade artística comparável aos grandes artistas desse estilo que estão fazendo muito sucesso pelo mundo. Então, o que eles estão fazendo agora é praticamente algo inevitável em que o resultado e o talento musical que eles já obtiveram, impulsiona, os obriga a fazer isso. A música que eles produzem, não apenas pela composição em si, pela qualidade do repertório escolhido, que é magnífico, mas também essa composição maravilhosa associada aos arranjos  do Robério Molinari, que são maravilhosos, arranjos primorosos musicalmente falando, valorizando cada detalhe dos cantores e essa maestria que o Robério tem como pianista, como arranjador e como regente, ou seja, ele reúne uma formação musical muito completa. O i Molinari criou uma obra musical que mostra ao público uma grandiosidade, que ela precisa inclusive de um espaço cênico comparado a essa grandiosidade para se estabelecer. Então, eu vejo como se eles estivessem se apresentando até então em uma caixinha fechada sem espaço. A música que eles produzem não cabe dentro do espaço que até então lhes foi reservado, então é preciso ampliar esse espaço. Eu acho que nós já demos um salto muito significativo do que era o grupo há um ano, por exemplo. Eles não chegaram nem na metade do que eles merecem, é muito complexa essa situação, porque, eles conseguem doar a música que está dentro deles, mas não é possível transformar um palco cênico no formato ideal somente pelo desejo, ou seja, para algumas coisas o dinheiro é fundamental, para algumas coisas o patrocínio é fundamental, e o que eles conseguiram até então fez com que eles dessem um salto enorme. Eu espero muito que eles tenham o reconhecimento que merecem de forma com que consigam a verba necessária para construir esse espaço cênico que vai comportar finalmente a grandeza da música que produzem.


E você acha que existe algum grupo que produza um trabalho similar ou comparável ao do i Molinari aqui no Brasil?

Com certeza, com uma projeção nacional não há. Se houver, são iniciativas isoladas como a do i Molinari ainda é isolada. Podemos dizer que eles tem uma abrangência regional ainda, então, se houver algum grupo parecido, é um grupo que ainda não se projetou nacionalmente. É importante dizer que, é muito difícil reunir a competência musical, o talento interpretativo e o potencial vocal  com a qualidade de um arranjador como o i Molinari, além da  força de trabalho a que eles se propõem, ou seja, esse é um conjunto de requisitos que não é fácil encontrar. O i Molinari tem uma qualidade que é muito rara também, eles são individualmente talentosos, são muito solistas, mas eles conseguem canalizar essa energia para a formação de um grupo. Normalmente, quanto mais solista e talentoso um artista é, mais dificuldade ela tem de conviver com o outro, por isso vemos vários talentos pelo mundo que são isolados, que são cantores líricos que saem cantando pelo mundo sozinhos. Os integrantes do i Molinari, por outro lado, conseguiram emprestar esse talento individual também ao grupo, aprendendo que existem os momentos de cada um e existem momentos de  grupo, em que eles são um quarteto, onde os artistas se somam. Eles conseguiram construir um conceito pleno de polifonia, ou seja, são várias vozes individuais, igualmente importantes, igualmente talentosas, que criam juntas um coletivo talentoso. Ao mesmo tempo que conseguem montar uma unidade, não destroem o indivíduo, e isso é uma coisa muito difícil de se fazer.  É muito bonito ver o resultado disso, apesar de todas as adversidades que a arte ainda vive no Brasil.


Na sua visão, qual a contribuição do i Molinari camerata musici para o cenário musical contemporâneo?

O efeito que eles causam no público é uma emoção tão intensa que, quando um grupo como esse consegue se projetar, ele ganha um público muito grande. Trata-se de um universo artístico, não apenas musical, que nos leva a um lugar de certa forma paradisíaco, fora da nossa realidade cotidiana, que já é tão pesada, tão difícil. Vivemos em um mundo muito tecnológico, que trabalha com uma realidade muito cruel, e um grupo como o i Molinari consegue criar um oásis, um espaço onde a fantasia ainda é possível. Aliás, uma das músicas mais bonitas do repertório chama-se Nella Fantasia, que diz que, “na minha fantasia, eu vejo um mundo justo”, isso é muito bonito, talvez seja essa a grande contribuição que eles dão, de mostrar que ainda é possível o espaço da fantasia.


Nós vemos que, nos concerto anteriores, como em Ouro Preto e Sabará, as pessoas saem deslumbradas e surpresas com a apresentação do grupo. O grupo tem superado as expectativas do público. Como diretor artístico do grupo, o que acha que provoca essa reação?

As pessoas não estão acostumadas a ver de perto um resultado musical tão bonito, tão forte, tão poderoso, tão emocionante, talvez na fantasia das pessoas isso seja uma coisa da Europa, algo raríssimo. Talvez a nossa humildade brasileira nos diga que somos apenas do samba mas não somos de outro lugar. O i Molinari nos mostra, com uma inteligência de colocar músicas brasileiras dentro do repertório deles,  o que os diferencia dos outros grupos do mundo, é muito importante essa questão de valorizar o repertório brasileiro, eles nos mostram que somos tão poderosos musicalmente como qualquer italiano ou europeu, ou seja, também somos capazes de construir esse universo da fantasia com o mesmo poder, por isso o deslumbre, por isso as pessoas saem tão encantadas, porque elas vêem o que parecia impossível, a sensação é essa. Esse grupo tem potencial para fazer sucesso mundialmente, disso eu não tenho dúvidas.


Como você definiria a identidade do i Molinari camerata musici em uma frase?

É um grupo que mostra a possibilidade da construção plena da polifonia, no âmbito cultural, musical e humano.


Quais os planos de sua parceria com o grupo para os próximos anos?

Eu tenho um sonho enorme. O trabalho pessoal que nós desenvolvemos, que depende do esforço pessoal deles, está cada dia melhor, está crescendo muito. Infelizmente esse espetáculo, cenicamente, ainda não cresce porque estamos limitados a uma questão orçamentária. Precisamos de um determinado valor de dinheiro, que não é pouco, para construir esse espaço cênico que eles merecem. É muito difícil construir a cena no invisível, a cena tem que ser concreta, o “olimpo” tem que ser concreto. Então, eu tenho um desejo muito grande de continuar na Direção Artística do grupo, a cada dia, contribuindo com o talento pessoal de cada um, na presença cênica, no que eles podem ganhar e crescer como artistas completos que usam o próprio corpo em cena para se manifestar, e torço para que eles sejam reconhecidos como merecem, que patrocínios surjam, para que nós tenhamos, além do nosso poder abstrato, físico e emocional, que tenhamos a possibilidade de construir o “olimpo”, para que, enquanto eles vivem seus personagens de “deuses”,  eles se sintam mais em casa.   


Ernani Maletta é Diretor cênico e musical, cantor, ator e professor do Curso de Graduação em Teatro e do Mestrado e Doutorado em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Educação pela Faculdade de Educação/UFMG, com pesquisa que focaliza o conceito de atuação polifônica para a formação do ator.

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